Lá fora o vento sopra e levanta a poeira da terra seca da estrada, ao longe o galo canta sem poupar a dor da mãe que segura em seus braços o corpo do filho morto. É neste momento que o mundo se finda e o vento canta a mais delicada cantiga que alguém pode esperar, e os gatos cruzam os portões feito relâmpagos para se deitarem no jardim do desepero.
A chaminé da casa do morro cobre a cidade com sua fumaça escura, até parece que cairá uma tempestade nervosa sobre aquele ponto do planeta. A moça olha pela janela tristonha e seus olhos fazem as nuvens escuras lançarem relâmpagos de alerta.
A mãe chora, grita, lamenta, aperta o filho no colo pedindo á Deus e a todos os santos que traga de volta a vida de seu menino.
Anoitece. A mãe adormece ao lado do filho calado e de mãos roxas e frias. Durante o sono da pobre mulher, um homen surge na estrada com suas vestimentas sujas de sangue seco. Ele se aproxima da mãe que dorme e retira o menino de perto dela, carrega-o até a igreja.
Horas depois a mãe acorda, não vê mais seu filho e sai perambulando a cidade a procura deste, por entre becos úmidos e ruas forradas de corpos de vizinhos. Mal sabe que a igreja é quem guarda seu filho.
O homem caminha sem pensar no que havera feito, sem pensar na dor da mãe que chora pela cidade. Sai vagado pela estrada com um olhar distante e profundo, sem brilho.
A mãe chega até a igreja tendo como último lugar daquela cidade para procurar seu filho e entra para se entregar à crença na esperança de encontrá-lo, mas fica paralisada por ver seu filho em pedaços espalhados no altar. Ela os recolhe com todo o cuidado e os abraça se banhando em sangue.
Depois deste dia, aquela pobre senhora vaga por entre morros e estradas vazias de muitas cidades por onde o aquele homem passou.
Danilo Gomes